Escândalo de nepotismo ameaça reputação do partido Missão na Bahia

Escândalo de nepotismo ameaça reputação do partido Missão na Bahia

Há uma cena clássica na política brasileira, tão repetida que já se tornou uma peça de teatro do absurdo: o político de voz empostada e dedo em riste, prometendo nos vídeos nas redes sociais aquilo que não tem coragem de executar na vida real. E no centro desse palco, na Salvador que sofre com a falta de atendimento básico e vê seus animais morrerem por abandono do poder público, surge a figura do vereador Sandro Filho.

Não é de hoje que observo este modus operandi. O cidadão é eleito, muitas vezes com um discurso de “combate ao sistema”, para, uma vez acomodado na poltrona do cargo, transformar seu mandato em uma produtora de conteúdo vazio. Sandro Filho se encaixa perfeitamente nesse perfil: o “vereador de vídeo”. Recebe R$ 27 mil mensais dos cofres públicos – uma pequena fortuna paga pelo povo – para, aparentemente, produzir um vídeo por mês. É um dos piores custo-benefício que a cidade já viu.

Enquanto isso, a cidade clama por ação. Pessoas “não conseguem atendimento para nada”, como bem lembra o desabafo do influenciador Roberto que viralizou. O serviço público definha, a população sofre e os animais – causa carregada por mais da metade dos seus eleitores – morrem sem assistência. A pergunta que não quer calar é: onde está a fiscalização que é dever primordial do vereador? A Câmara Municipal não é um estúdio de filmagens. É o local de onde se deve “invadir” os espaços negligenciados, “meter o pé nas portas” dos gabinetes omissos e cobrar respostas. Onde está a coragem, vereador?

A omissão, porém, parece ser uma escolha conveniente quando se está confortavelmente instalado em uma bancada familiar. A revelação de que a esposa do vereador aufere a bagatela de R$ 20 mil por mês do erário é o tipo de fato que joga por terra qualquer discurso de renovação. Some-se os salários, e a família Filho embolsa quase R$ 50 mil mensais dos contribuintes. É um arranjo financeiramente excelente para eles, mas uma afronta moral para uma cidade que carece de serviços essenciais.

Como se pode cobrar rigor na aplicação do dinheiro público quando se usufrui dele de maneira tão questionável? Como falar em fiscalizar para o bem do povo, quando se fecha os olhos para um benefício tão claro no núcleo familiar? A coerência é a primeira vítima nesse tipo de conduta.

E, para quem acredita que a história termina aqui, preparem-se. O que foi dito até agora é apenas o prenúncio do que está por vir. As “bombas” prometidas, com áudios e as relações com a presidência da Câmara, aguardam o momento eleitoral para estourar. O futuro brilhante que se projetava para o vereador está sendo queimado na largada, não por uma conspiração, mas pela simples exposição de seus atos – ou da falta deles.

É triste, de fato. Mas, seguindo os exemplos que vemos diariamente nos noticiários, não é nada que deva nos surpreender. É apenas a velha política se repetindo, vestindo a nova roupa da internet. O palco mudou, mas a peça, essa, continua miseravelmente a mesma.

Com a palavra, o vereador Sandro Filho. O povo, e mais de cinquenta por cento dos seus eleitores que têm animais, aguardam explicações que vão muito além de um vídeo mensal.

Cabral

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