A Bahia em crise e a voz da experiência: José Carlos Aleluia com Mauro Cardim na Linha do Bem
Em mais de seis anos de parceria com do programa “Linha do Bem”, testemunhei inúmeros debates e discuti diversos assuntos com personalidades. Mas algumas conversas ficam gravadas, não apenas no ar, mas na memória, pelo peso da verdade crua e da experiência que carregam. Foi o que aconteceu na noite desta quinta-feira, dividi a tela com o ex-deputado federal José Carlos Aleluia, uma das vozes mais respeitadas e lúcidas da política baiana.
O que poderia ser apenas mais uma análise de cenário transformou-se em um diagnóstico preciso e, por vezes, doloroso, do estado em que a Bahia se encontra. Aleluia, com a autoridade de quem apoia governos há 20 anos – e, portanto, conhece por dentro a engrenagem –, não veio para fazer politicagem. Veio para dar o alerta.
A tese central do nosso debate foi cristalina: a atual administração estadual opera no modo “governíssimo”, um termo que encapsula perfeitamente a prática de usar a máquina pública e as promessas para atrair aliados, sem qualquer compromisso real com a execução. O exemplo da ponte para a Ilha de Itaparica é emblemático. Como bem lembrou Aleluia, há mais de 15 anos essa obra é anunciada. Agora, magicamente, com a proximidade das eleições, surge um novo anúncio para o próximo ano, julho mais ou menos. A anedota, porém, fica por conta da criação de uma “Secretaria da Ponte”. Sim, leitor, você não leu errado. Criaram um cargo, uma estrutura, para gerenciar uma obra que não saiu do papel. É o ápice do absurdo e do desrespeito com o dinheiro público.
Mas Aleluia foi além da crítica pontual. Ele traçou um paralelo assustador: o colapso que vemos hoje na saúde pública é o mesmo que assola a educação, a segurança e a economia. É um projeto de poder falido que definha todas as áreas vitais do estado. Os números que ele citou são um soco no estômago de qualquer baiano: um desemprego que beira os 10%, uma das piores taxas do país, só perdendo para Pernambuco. Enquanto isso, estados sérios como Santa Catarina operam com um desemprego na casa dos 2%. A Bahia, outrora locomotiva do Nordeste, está virando um vagão descarrilado.
Aqui, a análise do ex-deputado ganha contornos de um manifesto de esperança. Ele é categórico: “A solução está nas urnas”. Não é mais sobre esquerda ou direita. É sobre competência versus incompetência. É sobre seriedade versus piada pronta. O próximo ano será crucial. Precisamos, como ele mesmo disse, “colocar alguém que tenha experiência e coragem de enfrentar essa ladeira abaixo que a Bahia está entrando”.
E foi nesse momento que a conversa, naturalmente, migrou para o futuro. A fala de Aleluia soou menos como uma análise genérica e mais como um endosso prévio à sua própria possível candidatura. Ao enumerar a necessidade de um governador com experiência, coragem e um plano para retomar a competitividade do estado em todas as frentes – “saúde, educação, segurança, clima de negócios” –, ele não descreveu um terceiro. Descreveu um perfil que ele próprio encarna.
A mensagem final foi um chamado à responsabilidade do povo baiano. “Só os baianos podem salvar a si mesmo. Não vem de fora.” Ele argumenta que mesmo uma vitória do campo oposicionista ao governo federal, que ele espera, será insuficiente se não for acompanhada por uma vitória dentro da Bahia. Precisamos de um governador que seja um parceiro para reconstruir o estado, não um empecilho a ser combatido.
Ao final da entrevista, fica a sensação de que a política baiana pode estar prestes a presenciar o retorno de um titã. Não um aventureiro ou um populista, mas um homem com a bagagem, a coragem e a clareza de ideias que este momento de crise exige. José Carlos Aleluia não veio ao programa apenas para criticar. Veio para plantar uma bandeira e lançar um aviso: a Bahia precisa se salvar, e ele está disposto a colocar sua vasta experiência a serviço dessa missão. O ano que vem promete. E, depois dessa noite, tenho mais esperança de que a luz no fim do túnel pode, finalmente, ser a da ponte que não saiu do papel, mas de um novo caminho para o nosso estado.