A oposição baiana e o “fênix de aluguel”

A oposição baiana e o “fênix de aluguel”

Em uma aguda reflexão recente, o jornalista Zé Eduardo Bocão, trouxe à tona uma imagem poderosa para descrever a política baiana: a de um “fênix de aluguel”. Esta figura mitológica que renasce das próprias cinzas é, no contexto, uma construção artificial. Uma ave que “não é fênix de verdade, mas se fantasia de fênix” para tentar convencer a todos de que um renascimento é possível, mesmo quando todas as evidências apontam para o contrário.

É nesta metáfora que se encaixa perfeitamente a trajetória de ACM Neto e seu “grupo de oposição” ao PT na Bahia. A cada eleição, especialmente nas disputas ao governo do estado, assistimos ao mesmo roteiro: a oposição tenta se reerguer das cinzas de suas derrotas passadas, proclamando uma “nova era” e uma “mudança necessária”. No entanto, como bem aponta a reflexão, trata-se de um renascimento ilusório, forjado mais na retórica do que na realidade.

O histórico eleitoral é implacável e conta uma história de fracassos consecutivos. O grupo político do qual ACM Neto é herdeiro e principal expoente não consegue, há décadas, romper a hegemonia petista no Palácio Rio Branco. As derrotas não são meros acidentes de percurso; são sintomas de uma desconexão profunda. É a “tentativa de renascer sem ter o poder de renascer de verdade”. A oposição baiana, muitas vezes, parece acreditar que a simples menção ao sobrenome “Magalhães” ou a lembrança de um passado glorioso será suficiente para convencer um eleitorado que mudou, que exige mais do que nostalgia.

Neste contexto, a pré-candidatura de ACM Neto ao governo é o ápice deste “fênix de aluguel”. Embora dotado de maior capital político nacional e experiência administrativa à frente de Salvador, ele carrega o peso duplo deste legado: a herança de um grupo que teima em não se modernizar substantivamente. A crítica central reside justamente aí: na “ilusão de ótica política”.

Há uma tentativa de vender à população a ideia de que a mudança é inevitável, de que o “fênix” finalmente renascerá. No entanto, essa narrativa ignora que, para renascer, é preciso primeiro entender por que se queimou. E as cinzas das derrotas passadas são feitas de falta de projeto estadual consistente, de uma comunicação que não dialoga com as periferias e o interior profundo de 417 municípios, e de uma incapacidade de apresentar uma alternativa que vá além do antipetismo.

Em suma, a fala de Bocão nos convida a desconfiar do espetáculo. A oposição baiana, com ACM Neto à frente, encena o drama do renascimento, mas a plateia, o povo baiano, já conhece o final da peça. A menos que haja uma autocrítica genuína, uma reinvenção programática e um abandono real da fantasia, o que veremos não será o voo triunfal de uma fênix, mas mais um ato da crônica de uma derrota anunciada. O verdadeiro renascimento político exige mais do que penas de aluguel; exige raízes na realidade do povo a quem se deseja governar.

missao

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