Grupo estimulado por Mauro Cardim manifesta interesse em comprar os Correios; rombo bilionário pressiona estatal
Um grupo privado estimulado pelo empresário Mauro Cardim, em parceria com um fundo de investimento português e investidores da Arábia Saudita, manifestou interesse em adquirir os Correios. A declaração surge em meio ao pior cenário financeiro recente da estatal, que acumula prejuízo superior a R$ 6,1 bilhões apenas em 2025, segundo números reportados pela imprensa com base nas demonstrações contábeis mais recentes divulgadas pela empresa. Além do rombo, os Correios tentam aprovar um empréstimo de R$ 20 bilhões para cobrir déficits e financiar o funcionamento da operação.
Cardim afirmou que a compra seria “vantajosa”, já que o prejuízo “não valeria nada” e permitiria ao grupo adquirir a estrutura física da estatal, garantindo parte dos empregos. No entanto, especialistas alertam que o passivo dos Correios — que inclui dívidas operacionais, obrigações trabalhistas, plano de saúde e queda contínua de receita — não pode simplesmente ser “deixado” para o Estado, como sugerido na fala de Mauro.
Além das dificuldades financeiras, a empresa executa um Plano de Demissão Voluntária que pode reduzir milhares de postos de trabalho, ao mesmo tempo em que enfrenta exigências do Tesouro Nacional para justificar novos financiamentos e reorganizar sua estrutura administrativa. O governo federal já sinalizou que não considera a privatização uma solução imediata, o que indica que qualquer negociação desse tipo enfrentaria forte resistência política, sindical e regulatória.
Mesmo com o interesse do grupo ligado por Cardim, qualquer movimento de compra dependeria de um longo processo jurídico, aprovação do Congresso, análise de passivos e, principalmente, clareza sobre como manter o serviço postal universal, obrigação que encarece significativamente a operação dos Correios.
A Crise dos Correios e o Crescente Interesse Privado:
2015–2018 — Início da deterioração financeira
- Queda acelerada do volume de cartas e serviços tradicionais.
- Crescimento tímido do e-commerce não compensa a perda de receita.
- Correios acumulam sucessivos prejuízos e aumento de passivos trabalhistas e do plano de saúde (Postal Saúde).
2019 — Primeiro grande plano de enxugamento
- Implementação de cortes de despesas, fechamento de agências e revisão de contratos.
- Início da discussão para privatização parcial ou total da estatal.
2020 — Pandemia e pressão operacional
- Explosão de demanda do e-commerce eleva receita, mas também aumenta custos e gargalos.
- Falta de investimento na estrutura logística impede que o lucro cresça de forma sustentável.
2021 — Privatização ganha força
- Governo federal inclui os Correios no Programa Nacional de Desestatização.
- Debate avança no Congresso, mas enfrenta forte resistência sindical e política.
- O tema não vai a votação final e acaba congelado.
2022 — Recuo e estagnação
- Nova gestão federal retira os Correios da agenda imediata de privatização.
- A empresa segue operando com estrutura defasada, aumento de despesas e queda de eficiência.
2023 — Custos sobem e receita cai
- Perdas crescem com aumento dos gastos com pessoal, logística e manutenção da rede física.
- Início de estudos internos para racionalização da rede de agências.
2024 — Estado de alerta
- Imprensa e analistas apontam deterioração das contas.
- Correios começam a preparar um Plano de Demissão Voluntária (PDV) para reduzir despesas.
- Debates internos sobre venda de imóveis e reestruturação profunda dos serviços.
2025 — Rombo explode e crise se agrava
- Prejuízo acumulado ultrapassa R$ 6 bilhões apenas até setembro de 2025.
- Empresa solicita empréstimo de R$ 20 bilhões para cobrir déficits e recompor caixa.
- Tesouro Nacional coloca condicionantes rígidas e cobra reestruturação.
- Estado anuncia estudos para venda de ativos não essenciais e revisão de contratos logísticos.
Outubro–Novembro de 2025 — Tensões e incertezas
- PDV acelera e estimativas apontam para até 10 mil desligamentos.
- Imprensa revela dificuldades de aprovação interna de novas linhas de crédito.
- Modelos de reestruturação começam a ser avaliados pelo governo e pelo TCU.
Dezembro de 2025 — Interesse de grupos privados aparece
- Especialistas alertam que o passivo da estatal não pode ser “separado” dos ativos, o que torna a operação complexa e politicamente sensível.
- Governo federal afirma publicamente que não trata a privatização como solução imediata.