O ataque de Renan Santos (MBL) ao sotaque nordestino e o Brasil que precisamos enfrentar
A política brasileira atravessa um momento em que a radicalização e a incapacidade de diálogo parecem ter se tornado parte da paisagem. Porém, há limites — e a fala recente do presidente do MBL, Renan Santos, ultrapassou todos eles ao debochar do sotaque baiano e nordestino de forma misógina, preconceituosa e ofensiva. Não se trata apenas de divergência política, mas de falta de respeito e humanidade.
Em seu pronunciamento crítico, o empresário e comunicador Mauro Cardim expressou a indignação que tomou conta de baianos e nordestinos ao assistir a mais um episódio de preconceito travestido de opinião política. Renan Santos, que diz ambicionar a Presidência da República, tratou o modo de falar do povo nordestino como se fosse motivo de chacota — como se o sotaque fosse sinônimo de ignorância, atraso ou caricatura.
“Que boçalidade esse presidente do MBL… e o cara ainda quer ser presidente do Brasil”, destacou Cardim, resumindo o sentimento de profunda decepção. Ao imitar e ridicularizar um “jeito de falar”, Renan não atacou apenas um parlamentar nem apenas um grupo específico de pessoas. Ele lançou desprezo sobre milhões de brasileiros cuja cultura, fala, história e ancestralidade fazem parte da construção do Brasil.
Não é novidade que parte da elite política e econômica do eixo Sul-Sudeste ainda trata o Nordeste como periferia cultural. Mas é chocante ver esse comportamento vindo de alguém que se apresenta como líder de renovação política, defensor da juventude e promotor de transformações no país.
Cardim questiona, com razão: “É esse Brasil que você tanto diz que precisa de mudança e transformações? Por que você não começa essa grande transformação por você?”
O Nordestino é o trabalhador que sustenta o país, é a força cultural que projeta o Brasil no mundo, é a resistência que mantém viva a esperança em meio à desigualdade histórica. A Bahia, especificamente, é o território onde o Brasil nasceu — e que carrega consigo a diversidade que molda nossa identidade nacional. Ridicularizar o sotaque baiano é atacar a essência do próprio país.
A fala de Renan, além de ofensiva, é perigosa. Ela reforça estereótipos, legitima preconceitos e dá munição para um discurso excludente, que alimenta ódio onde deveria existir respeito. Isso não é liderança. Isso não é coragem política. Isso é apenas falta de caráter público.
Cardim também fez um apelo aos jovens baianos que seguem o MBL: que reflitam, que cobrem respeito, que não aceitem ser tratados como inferiores por quem se acha “intelectual” ou superior por ser paulista. A verdadeira política é feita de pontes, não de muros. De diálogo, não de prepotência.
A Bahia sempre recebeu a todos de braços abertos — inclusive Renan Santos, como lembrou Cardim. Mas acolher não significa aceitar humilhação. O Brasil que queremos construir exige maturidade, empatia e respeito à diversidade cultural e regional.
E agora, fica a pergunta ao leitor:
O que você acha da atitude do líder do MBL ao debochar do sotaque nordestino? Esse é o tipo de comportamento que deve fazer parte do debate público brasileiro?