O espectro de Camaçari: O perigo da política de pacote em Lauro de Freitas
A situação política de Lauro de Freitas vai além de um desabafo local. Ela expõe uma ferida aberta na democracia brasileira: a prática da política como um jogo de interesses pessoais, que ignora a vontade popular e sufoca a autonomia dos municípios. O que trago não é apenas uma denúncia, mas um alerta sobre os riscos de se trocar um grupo político por outro, sem romper com as estruturas de poder que perpetuam o benefício próprio.
Minha crítica reside na figura de um “fantasma” do poder: o ex-prefeito de Camaçari que, sem ser cidadão de Laurofreintense, aparentemente comanda os bastidores da cidade. Se isso for verdade, é gravíssimo. Ela aponta para uma apropriação indevida da máquina pública, onde cargos chave nas secretarias e na saúde estariam sob o domínio de um agente externo. Isso não é política; é uma espécie de “colonização”, onde as decisões que afetam a vida de milhares de pessoas são tomadas por quem não presta contas a elas.
Esse cenário é ainda mais doloroso quando contrastado com a esperança de mudança que levou à alternância de poder. “Tiramos o PT da cidade de Lauro de Freitas buscando mudanças” mas o sentimento de muitos eleitores que, cansados de um status quo, depositam sua fé em uma nova força política está abalado e o que se recebe é um “pacote importado”. A metáfora: um pacote é algo fechado, pré-determinado, imposto sem discussão. É a antítese da democracia participativa, onde projetos, especialmente os que “mexem no bolso” do cidadão, devem ser debatidos amplamente.
A conivência ou a omissão da Câmara de Vereadores é o elemento que completa esse ciclo vicioso. Quando os representantes do povo “rompem e retornam” em função de benefícios, eles traem o seu papel primordial: o de fiscalizar o Executivo. A busca por regalias substitui o dever de zelar pelo interesse público. Uma câmara fragilizada e negociata é o cenário ideal para que projetos ruins sejam aprovados às escuras, longe do escrutínio da sociedade.
Portanto, o que faço é um apelo. A única forma de combater a política de pacote e o domínio de “fantasmas” do poder é com transparência e pressão popular. A sociedade de Lauro de Freitas, e de qualquer cidade que se identifique com essa realidade, precisa acordar. É urgente cobrar dos vereadores que cumpram seu papel, que exijam a retirada de pauta de projetos não discutidos e que abram as portas da casa de leis para o verdadeiro dono do poder: o povo.
A lição que fica é clara: trocar os atores no palco do poder é inútil se o roteiro da corrupção, do fisiologismo e da falta de transparência permanecer o mesmo. A verdadeira mudança começa com o fim da política de pacotes e com a retomada do controle da cidade por aqueles que nela vivem e por ela trabalham.