“Quando a voz dos alunos ecoa no vácuo do poder”
Lauro de Freitas vive um momento decisivo em sua educação. O que se vê hoje não é apenas mais uma crise administrativa, mas um sintoma grave de um sistema que parece ter esquecido seu principal propósito: educar. Os recentes protestos dos alunos, pedindo a reintegração de diretores exonerados, não são um mero capricho juvenil, mas um sinal de alerta que merece ser ouvido — e não silenciado pelo jogo político.
Há uma ironia dolorosa na situação. De um lado, discute-se a importância da democracia e do respeito à vontade popular. De outro, quando essa vontade se manifesta através dos jovens — justamente aqueles que deveriam ser os maiores beneficiários das políticas educacionais —, ela é recebida com desdém ou hesitação. Se a democracia é de fato um valor inegociável, por que a voz dos estudantes parece valer menos que a de grupos de interesse ou de vereadores que, no passado, usavam a educação como moeda de troca?
Não se pode ignorar o momento sombrio que paira sobre a gestão educacional do município. Houve um tempo em que cargos eram tratados como butim eleitoral, e diretores, indicados por vereadores, serviam mais a interesses políticos do que à comunidade escolar. Avançar significa romper com esse ciclo — mas avançar de verdade, com transparência e diálogo, e não com medidas autoritárias disfarçadas de modernização.
A prefeita precisa rever urgentemente as orientações que recebe e os conceitos que orientam sua gestão. O que está em jogo não é uma disputa ideológica, mas o futuro de centenas de crianças. Enquanto o poder público se engaja em uma queda de braço com professores, sindicatos e agora alunos, quem perde é sempre o mesmo: o lado mais frágil, a educação. E, no centro desse cenário, estão os estudantes — sem voz, sem vez, sem perspectiva.
Não se trata de retroceder, mas de corrigir rotas. Um governo que se inicia de forma tão conturbada precisa parar de “tankar” — suportar passivamente — as indiferenças que dividem a sociedade. É hora de escutar, de construir pontes e, acima de tudo, de lembrar que a educação não é uma trincheira, mas um território comum. Um território onde a voz das crianças deve ser, sim, não apenas ouvida, mas respeitada.
Laude Freiters clama por evolução. E evolução, neste caso, começa com humildade para reconhecer que, às vezes, as lições mais importantes vêm de quem está dentro da sala de aula.